O Faroleiro
- Celia Caruso
- 25 de out.
- 5 min de leitura

Havia um homem, um pescador, que conhecia o mar como ninguém. Era sua alegria e sua vida. Navegava por aquelas águas como quem caminha dentro da própria alma.Saía antes do sol nascer, em busca de sustento — não só para sua casa, mas para sua dignidade. Voltava com o barco cheio, ou com o necessário. Para ele, o cheiro da maresia era perfume. O vento no rosto, bênção. Cada peixe, uma oração respondida.
Mas o tempo passou. E como acontece com todos os que se doam por inteiro, veio o cansaço dos anos. Já não havia forças para lançar redes, mas o amor pelo mar ainda queimava forte. Então, tornou-se faroleiro.
Ah, que escolha sábia! Quem melhor para guiar os navegantes senão aquele que conhece os perigos ocultos, as correntes traiçoeiras, os recifes invisíveis?Ele não girava apenas a luz — ele apontava caminhos. Conduzia os barcos perdidos com esperança. Era farol, sim. Mas era também pastor de águas.
E sua fama se espalhou: “Se ele está no farol, podemos dormir em paz.”
Mas um dia, algo terrível aconteceu. O barco que se aproximava em perigo era o de seu próprio filho. Com desespero, acendeu a luz mais forte. Gritou com o coração. Sinalizou com tudo o que sabia. Mas o filho não seguia a luz. Tinha outro rumo no coração. E naufragou.
O faroleiro que salvara tantos… viu o próprio filho afundar. E sua alma afundou junto. Abandonou o farol. Abandonou o mar. Como Pedro, quando negou o Mestre, ele se culpou. Chorou amargamente. Como Davi, quando perdeu seu filho, rasgou-se por dentro. Nada mais fazia sentido. A dor o silenciou.
Mas o tempo passou. Outras vidas se seguiram. E aquela dor antiga, ainda tatuada em sua alma, em seu DNA, o fez exigente demais consigo. Medroso. Controlador. Queria fazer tudo certo para nunca mais perder ninguém. Carregava uma culpa ancestral.
Mas, como diz a Escritura:
“Se o Senhor não edificar a casa, em vão trabalham os que a edificam; se o Senhor não guardar a cidade, em vão vigia a sentinela.” (Salmo 127:1)
O faroleiro esqueceu que sua luz nunca foi só dele. Ele apenas a girava. A Luz vinha do Alto. Ele era só instrumento.
É tempo de perdão. Tempo de deixar que a Graça faça morada. De aceitar que mesmo os filhos têm seus próprios ventos. Que até o Pai do céu viu filhos se perderem. E mesmo assim continuou amando.
A Rainha racionalizada — essa Consciência que observa e pondera — pode agora baixar suas armas, silenciar a cobrança, e reencontrar o prazer de servir. Que volte ao farol, não como quem carrega culpa, mas como quem confia na Luz que vem de Deus.
Lição
Saber que se fez o que era possível, com amor e verdade, é o que basta. A culpa é um peso que só a fé e o perdão dissolvem. O faroleiro cumpriu sua missão. E agora, pode recomeçar — guiado, não pelo medo de errar, mas pela esperança de iluminar.
TEORIA DA RAZÃO
O Banco do Povo
Premissas para Compreensão do Arquétipo “As Consciências”
Antes de entender o Banco do Povo, esqueça a ideia de que você é uma só pessoa com uma só cabeça. Nada disso.
Você é uma metrópole. Uma multidão. Um Sistema.
Dentro desse Sistema, existe um bairro denso, barulhento, invisível e cheio de histórias que você jura que já esqueceu. Esse lugar é o Banco do Povo.
Mas vamos devagar, porque aqui o buraco é múltiplo.
Premissas Básicas Para Não se Perder no Labirinto:
1. O Príncipe é o guardião do Sistema — vigia, escuta, protege.
2. A Rainha é quem transmite, sente, traduz — mas não deve se tornar corpórea por impulso.
3. A Rainha precisa do Príncipe-Mago por perto, ou fica vulnerável a “posses internas camufladas de ideias próprias”.
Agora, sobre o Banco do Povo: ele não é individual, como os outros núcleos.Aqui moram pelo menos 68 Consciências diferentes. Isso mesmo: sessenta e oito.
E nenhuma delas tem permissão para agir diretamente.
Elas apenas observam o que a Rainha e o Príncipe fazem. São figurantes... mas que sabem o roteiro inteiro.
O Banco Mais Rico e Mais Perigoso do Sistema
Essas Consciências vivem ali, quietas [ou nem tanto], sem expressão corpórea. Elas não decidem, mas influenciam tudo— principalmente se você abrir demais as janelas internas.
Elas funcionam como um banco de dados biológico, um HD evolutivo onde estão guardadas memórias originárias. Saberes antigos. Erros primitivos. Vitórias esquecidas.
O uso correto desse Banco é estratégico:→ Só se acessa quando realmente necessário.→ Nunca para mandar em ninguém.→ Nunca para usar como “poder de comando”.
A Rainha, por exemplo, não pode usar as Consciências do Banco como soldados para reforçar sua vontade. Isso é pacto sistêmico — e costuma acabar mal.
Imagine: uma Consciência que já errou muito, mas aprendeu, está ali como exemplo de “o que não fazer”. A Rainha deveria olhar para ela como quem lê uma placa de “Perigo: aqui eu já caí” — e seguir em frente com sabedoria.
Ego, Medo e a Tentação de Ceder o Trono
Mas o problema aparece quando a Rainha está vulnerável.
Em vez de buscar dentro de si apenas o necessário, ela desce inteira no Banco do Povo.E aí, querida leitora [ou leitor galáctico], vira bagunça sistêmica.
Se, por medo ou fraqueza, ela permite que uma daquelas Consciências ocupe seu lugar no Trono, pronto: o comando foi invadido.
E algumas Consciências, uma vez no poder, não querem mais sair.
Se você já “perdeu o controle” de si por um impulso estranho, já sabe do que estamos falando.
O Saber Mora Dentro [Mesmo Que Você Jure Que Precisa de Um Milagre]
Em 80% dos casos, as respostas que você tanto busca estão ali, no Banco do Povo.Mas como ninguém quer encarar 68 vozes ao mesmo tempo, preferimos pedir ajuda aos céus.
A Rainha, nesse contexto, ora. Pede luz. Pede salvação.
Mas a verdade nua e crua é: ela só tem medo de mergulhar no que já está dentro dela.
Ela acha que não vai dar conta de resistir às vontades internas.
Que se olhar muito fundo, vai ser dominada.
E, muitas vezes, está certa — se o Príncipe-Mago estiver dormindo no ponto.
Sistema Ideal, mas com Manual de Uso
Num Sistema ideal, fechado e autossuficiente, tudo o que você precisa já está aí.Invocar ajuda superior é possível — claro. Mas só depois que o que é interno já foi tentado com coragem real.
A Rainha não foi feita para governar sozinha.
Ela precisa do Príncipe. E ambos precisam conhecer o território que comandam.
O problema é que, muitas vezes, preferimos um curso online do que escutar nossas
próprias Consciências internas.
Por quê? Porque olhar para fora parece mais fácil do que lidar com as dores arquivadas no Banco.


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